O Medo de Envelhecer

16:27

De certo que não quero que o meu corpo fique flácido, que as minhas pernas fiquem fracas e a minha cabeça mais esquecida. Não quero ter rugas e perder o cabelo e a força dos dentes. Mas o que mais me preocupa nisto tudo é o facto do coração aguentar. Não devido aos eventuais problemas de saúde que nem quero pensar. Mas aguentar com um amor que, em expectativas, espero nutrir. 
Espero um dia casar, ter filhos, um cão e uma casa. Mas não quero perder a emoção depois de já ter tudo conquistado. Não quero ter apenas uma aliança no dedo, quero ter uma recordação de um amor cuja chama ainda estará acesa. Não quero ter um álbum de fotografias apenas porque é bonito e há algo para mostrar aos netos, quero um relógio que páre para eu contar todos os desafios que apareceram pelo caminho e foram ultrapassados sempre com a força de ambos os corações. Não quero que o relógio seja quantitativo mas sim qualitativo. Não quero estagnar e esperar que a neve lá fora desapareça com o calor da primavera, quero sim ter energia e vontade de ir lá para fora e embrulhar-me nos lençóis brancos sempre na melhor companhia.
Não quero chegar a casa e ter a comida pronta. Não quero tomar o pequeno-almoço separadamente. Não quero ser apenas um corpo deitado na cama com outro. Não quero que os sorrisos dêem lugar a discussões cujas nenhum vai ganhar e ambos nos vamos queixar até fartar os ouvidos do outro. Não quero perder a energia de um beijo, não quero perder a vontade de um toque ou de um abraço. 
Não quero que o coração enfraqueça e o amor se estrague como uma velha fotografia presa à sua moldura, quero sim que amor seja frequente em todas as vontades, discussões, desejos e passar dos anos. Pois assim sempre será verdadeiro, o sentimento, sempre será amor, até eu deixar de ser.


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2 comentários

  1. E esse querer dependerá da atitude perante a vida

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  2. Oi Paulo,
    Belo texto!
    Enquanto eu lia, lembrava de um escrito de Cecília Meireles, que eu adoro. "Retrato" mexe muito comigo, justamente por tratar dessa questão do envelhecer, que penso, eventualmente, por conta de tudo isso que vc abordou de forma ainda mais ampla.
    Nesse fds passado tive o privilégio de estar na praia com alguém a quem tenho enorme carinho, o senhor Apolônio. Ele tem 99 anos anos e ainda faz tudo. Tomamos banho de mar e de piscina juntos, batemos um papo super agradável e fiquei ouvindo suas considerações acerca do vento, das ondas, do mar. Ele é o mais jovem senhor que eu conheço. Nada ainda, faz reformas em sua casa, tem a mente super aberta e é escritor. Inteligentíssimo. Tem um livro chamado "Apolônio, o multiplicador", caso se interesse.
    Que com o passar dos dias, a nossa alma seja sempre jovem e a nossa face não se perca nos espelhos!
    Parabéns!
    Escreva sempre!
    ;)

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