Sou infinito!
16:05
Descalço no topo de um penhasco prendo-me ao som do rebentar das ondas. O vento sacode-me os cabelos e, de olhos fechados, sinto o tempo a passar-me pelos braços esticados. Fugir-me-ia mesmo que o tentasse agarrar: o tempo não é um conjunto de borboletas que podem ser caçadas, o tempo é fumo. Sou instigado pelos dias que passam e por todos aqueles que anseio. Quero melhor, quero fazer melhor, quero o hoje, quero o tempo.
Acho fascinante admirar a linha onde o céu encontra a terra, pelo mar. Prendo essa linha no meu olhar, prendo-me ao horizonte: tão longe e mesmo ali, tão perto. De certo modo, fascinante e, por outro lado, assustadora. É uma linha longínqua alcançável por instantes e ao mesmo tempo infinita num para sempre que me deixa na incerteza de a conseguir alcançar. Ora o sol se expande no céu com os seus tons mais quentes ora a bruma do mar se prepara para embrulhar milhas até terra.
Estou envolvido por essa linha, seja quente e ardente num pôr-do-sol, seja gelada num breu e bruma. Seja cor ou esplendor, seja negridão e angústia. Sejam mãos que me querem empurrar deste precipício, sejam asas que me queiram amparar a queda. Fico hipnotizado pelo infinito. Pela corrida de sonhos e pelo aglomerado de memórias que se atropelam à espera de me dar sentido. Acontecimentos, vontades, sentimentos, receios, dores, ilusões, ansiedades. É sede de infinito.
Vazio. Como um grão de areia contado na palma da mão, como um lençol branco estendido sob o relvado no verão. Inteiro. Como um botão de rosa preparado a abrir, como um livro acabado de escrever. E dentro deste peito cabe o mundo, cabe tudo. O vento sopra, não me abala. As ondas rugem, não me assustam. O tempo corre e eu sou infinito.
11 comentários
De início vem "o tempo não é um conjunto de borboletas que podem ser caçadas, o tempo é fumo" que me pôs em êxtase e já a imaginar o que poderia vir. Ai fui me levando pela leitura e de repente estava recitando no meu quarto, e se tornou as suas palavras e o eco de minha voz em um mundo instantâneo. Adorei o texto, com licença para recitá-lo de novo aqui no meu quarto.
ResponderEliminarAbraços!
És incrível, Paulo! É impossível não nos rendermos às tuas palavras <3
ResponderEliminarr: Acho que fazes muito bem em ir lá, aquilo é maravilhoso *.*
Beijinhos*
Hoje, amanhã ou ontem, lembra-te que és sempre infinito. E que "... deste peito cabe o mundo, cabe tudo."
ResponderEliminarÉ sempre bom reler-te. Beijinho
Adorei o texto e a foto, faz-me lembrar a Arrábida :)
ResponderEliminarEncantada com tanta simplicidade e leveza. Muito bom!
ResponderEliminarGostei imenso do texto e como tu dizes nele eu sou a pessoa que gosta de ver a linha entre o céu e o mar.
ResponderEliminarBom Natal.
Um excelente texto, sem qualquer nó cego na linha do horizonte. Apenas laços de grande inspiração.
ResponderEliminarPaulo, meu caro amigo, tem um bom fim de semana.
E um NATAL MUITO FELIZ, extensivo aos que te são mais queridos.
Abraço.
Texto incrível! Lindas palavras que parecem que foram escolhidas a dedo. Gostei muito!
ResponderEliminarDeixei um selo para vc em meu blog.
Grande abraço!
Adoro ver "as franjas do mar" brincando a cada onda que arrebenta... apesar de morar distante do mar, ele sempre me encantou da mesma forma como teu texto!
ResponderEliminarQuase senti o vento, o calor do sol e tudo mais.
Obrigado!
Somos todos infinitos e esse texto me faz ter certeza! Ótimo!!!
ResponderEliminarO problema é que o tempo corre e nós não somos infinitos. Só o seremos que alguém se lembrar que alguma vez existimos.
ResponderEliminar« A única pessoa que nunca comete erros é aquela que nunca faz nada. »
Obrigado pela visita *