A Gárgula

14:19

Vou contar-te a história daquela Gárgula que tu não conheces. 

É uma gárgula de pedra, que costumava lapidar os meus sorrisos. Ela moldava-se aos meus planos tornando-se, assim, omnipresente e omnipotente. Consumia a minha alma tornando-me corpo caído no pó de uma bola de cristal. Era aquela gárgula que costumava soprar todos os dentes-de-leão escondidos pelo jardim. Ela de pedra e mesmo assim conseguia ser suave e leve como um pequeno samurai, partindo as minhas defesas e roubando os meus sonhos sem eu dar por ela até descobrir que nada me restava. E no fim, lá ficava, no pódio, grandiosa de sorriso rochoso. Eu escondia-me dela, passava os dias corcunda passando pela sombra das ruelas e desencontrava-me dos meus anteriores passos para que ela se perdesse, se me estivesse a seguir. Mas ela nunca se perdeu, em vez disso ela, despropositada-mente, fez-me encontrar-te. E és tu, até agora, que a tens mantido afastada. Embora a consiga ver daqui, eu sei que ela já não me incomoda. Já não sinto o seu peito gélido a afogar a minha felicidade. Não oiço os seus lamentos pelos meus sonhos e já consigo dormir agarrado à vontade de viver.
E ela agora mantém-se afastada porque contigo aqui os outros medos desvaneceram-se e só resta um que sei que se reflete pela distância a que ela se encontra de mim: o medo de te perder.




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9 comentários

  1. “…e já consigo dormir agarrado à vontade de viver”, e assim pensador, sua tia esboça um sorriso de quem fica feliz, por ver juntamente com a sua vontade de viver o ter vontade de viver de outrem…TU! Por vezes custa horrores, ai se custa…e sim, tendo presente que podemos perder, algo ou aquele alguém…mas depois! Bem depois será depois, porque hoje e amanhã a vontade é essa a de viver. Brindemos á vida que se faz a cada dia, em cada amanhecer, em cada anoitecer…porque já alguém me disse um dia aquilo que eu sabia, mas adormecida não via sentido em…” O sol sem a lua não é nada…mesmo quando está nevoeiro, pensas que ele não está lá mas ele está…”e à noite quando se vai deitar é no regaço da lua que se vai aconchegar, nela se vai deitar…Vivamos Pensador, em comunhão com a vida que se faz a cada dia.
    Ela gosta de nós, nós por vezes é que lhe viramos as costas…e de quem será a culpa?
    Sim eu sei que é dele, não não é do sol, mas sim daquele que arde sem se ver…deixai-o que até um dia esse, nos abrirá os braços, e nós viveremos tal e qual o sol e a lua…com sentido.
    Porque um sem o outro, não fazem sentido algum…
    Força…sua Tia está por cá, a torcer por si Pensador.
    Beijo n´oteudoceolhar.

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  2. Belleza de Palabras jugando con esa Gárgola, siendo cómplice de sentimientos y miedos; de amores y nostalgias.
    Un abrazo.

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  3. Há sempre um medo que nos consome. Há sempre uma gárgula, que se mantem atenta, pronta para "atacar".
    Beijito.

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  4. Um texto muito bom. Gostei muito
    de o ler. Um bj.
    Irene Alves

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  5. Como sempre Paulo, grandes textos!
    A parte inicial em que dizes que a gargula lapida os sorrisos, nao podia estar mais bem subjogada, enfim ... cm venho a dizer, fazes arte com as palavras!

    Abraço

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  6. Obrigado pela passagem no Olhar d'Ouro photography.
    Gostei de conhecer o seu blog, fico nos seguidores!
    Abraço

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  7. um belo texto, há tempos que não via um texto que me fizesse refletir...

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  8. gostei muito das palavras, e da música de fundo :)

    petitsmorceauxdemoi.blogspot.com

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« A única pessoa que nunca comete erros é aquela que nunca faz nada. »

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