Mãe.

14:00

Sempre me perguntaram se não doía e, mesmo engolindo em seco, a minha resposta era sempre negativa. Por vezes justificava-me e por outras deixava o não ser a última palavra a sair da minha boca. 
Inconscientemente, ao tocar no assunto, há algo dentro de mim que acorda e parece causar-me má disposição, um café que me caiu mal, um soco no estômago. Mas não posso dizer que seja dor, é um trago demasiado grande de água tomado sem sede que me atinge como se tivesse engolido um sopro do vento e me deixa sem ar.
Suspiro uma e outra vez e convenço a minha mente de que estou bem assim porque na verdade até estou. Sempre achei que a mais cruel mentira é aquela que tentamos convencer a nós mesmos pois sempre saberemos os dois lados da moeda que está em jogo mas por algum motivo recusamo-nos a ver.
Seja como for, ao fechar os olhos não existe mais nada e é desse instante que preciso para me recordar de tudo aquilo que se passou, de tudo aquilo que se foi com o vento. De como a pessoa que era suposto amar-me e proteger-me decidiu ser aquela que nem se lembra. E eu, por vezes, também tentava esquecer mas isso fazia com que a recordação se espetasse no meu peito e doesse. Sou apenas um pequeno barco embalado pelas ondas e pelo vento...
Então aprendi que aceitar era a solução pois a partir do momento em que aceitei lhe ser um desconhecido tudo parou de doer. Resta a saudade, resta a vontade de voltar atrás e não para mudar algumas coisas mas sim para poder vive-las de novo...


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9 comentários

  1. Mesmo que não seja dor, há sempre algo que mexe connosco, porque sentimos que tudo poderia ter sido diferente, porque sentimos que há ali um vazio que podia ter sido colmatado. Chega a uma altura em que aprendemos a reprimir essa angústia e a não deixar que nos afete, mas a verdade é que sempre que o assunto vem à tona desperta uma parte de nós.

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  2. Desabafo muito forte, que nem sei o que te diga ou escreva

    deixo-te um grande abraço de amizade :)

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  3. O mais importante é que aprendamos a reprimir a angústia que sentimos e seguirmos sem frente com um sorriso nos lábios. Pode custar, é verdade, mas é a melhor forma é tentar não lembrar constantemente.

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  4. Adorei este teu desabafo querido. Força!

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  5. Não sei se é um desabafo "revestido" a ficção ou é mesmo real. Todos os momentos são eternos dentro de nós, e "irrepetiveis", esse é um dos males da vida.

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  6. A vida e seus mistérios, muitas vezes inexplicáveis...

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  7. Poxa, que texto forte! Lindo, mas muito sentido... confesso que hoje por motivos diversos esse assunto me é doido, talvez nem tanto por mim (não posso reclamar), mas por situações que amigos próximos passaram...

    Para mim, essa é uma daquelas coisas que aprendemos a tolerar a dor, mas ela sempre vai estar lá.

    Um grande e forte abraço para ti!

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  8. Muito bom Paulo! Um desabafo sensível, escrito com a alma de um verdadeiro poeta.
    Feliz 2016, com muita paz, saúde e sucesso!
    Grande abraço e continue nos privilegiando com suas obras de muita qualidade.

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« A única pessoa que nunca comete erros é aquela que nunca faz nada. »

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