Escondido de mim, talvez
16:16
Eu escondia-me por entre as saias longas das mesas e ali permanecia, sustendo a respiração com medo que alguém me ouvisse. Ouvia os passos largos e apressados e outros tantos lentos e pacientes do outro lado daquele mundo que eu criara. Sentia-me protegido, ouvindo vozes e identificando os propósitos das conversas. De mãos circundantes aos joelhos eu sorria e imaginava as caras dos proprietários daquelas vozes e caminhares. De vez em quando lá via uns pés sujos, uns sapatos brilhantes, outros de saltos altos e ainda botas e chinelos. Vozes lacrimejantes, outras felizes, umas de admiração e tantas eram as de inveja... Poderia passar horas apenas a ouvir problemas e histórias, a identificar as pessoas. Poderia passar ali horas naquela minha bolha coberta e protegida. Mas então cresci, não me protejo mais dos olhares e nem dos corpos, não me escondo debaixo das mesas nem em lado algum porque a única coisa que eu tenho medo é daquilo que vem de dentro. Não de locais, não dos outros. Tenho medo do que está dentro de mim... Tenho medo do peito explodír e do coração não se tornar mais meu. Mas quem ama, tem medo, não é verdade? Medo de falhar, medo de não ser suficiente. E é esse medo que nos faz lutar para que o coração não seja apenas cheio de sentimentos suficientes mas que seja o insubstituível e único para outro alguém.
2 comentários
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Amar é um verdadeiro ato de coragem! Lindo texto, Paulo! Bom voltar a ter contato com seu blog...
ResponderEliminar« A única pessoa que nunca comete erros é aquela que nunca faz nada. »
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